Espetáculo
- "A CHEGADA DE LAMPIÃO NO CÉU E NO INFERNO" Circula por três cidades
do oeste da Bahia
O
Projeto - Teatro
no Cangaço dos Territórios - é uma iniciativa da Cia. de Teatro
Mistura de Ibotirama (BA) e pela primeira vez sai em Turnê por três
cidades dos territórios que compreendem o Macroterritório Oeste (5) - Barreiras
(Território Bacia do Rio Grande) Ibotirama(Velho Chico) e Macaúbas –
(Território Bacia do Rio Paramirim), apresentando o espetáculo "A Chegada de Lampião no
Céu e no Inferno" e outras atividades de formação, difusão e
intercambio Teatral entre o dia
30 e 31 de Agosto de 2014 e 16 de Janeiro de 2015. Além de desenvolver "Oficinas de Teatro
Experimental" para grupos de teatro, ministrada por Diego
Quinteiro, o projeto trás uma palestra sobre a história do cangaço, "O Cangaço no Território
Brasileiro" com o
historiado Renaildo Pereira mostrando a importância do cangaço no Brasil. Este
projeto tem apoio Cultural da Secretaria de Cultura de Ibotirama, Teatro Sesc
Barreiras e Centro Cultura de Macaúbas José Benedito do Amaral. Este projeto
tem apoio Financeiro da 2ª Chamada do edital Calendário das Artes 2013, FUNCEB
- Fundação Cultural do Estado da Bahia, entidade vinculada à Secretaria de
Cultura do Estado Secult-BA. A
montagem puramente adaptada de livretos de cordel de José Pacheco, Rodolfo
Coelho e João José da Silva. O espetáculo envolve a cultura popular com suas
danças, musicas e poesia, é dirigida por Gilberto Morais, Sanfoneiro Gerri
Cunha e Jurandyr Myranda que também integra o elenco com Ananias Araújo, Danilo
Dias, Diego Quinteiro, Franciele Nunes, Fabio Eugênio, Marcus Vinicius e
Rafaela Cruz.
O
Espetáculo e a Cia Teatral Mistura
"A Chegada
de Lampião no Céu e no Inferno, foi o marco divisor de água para a Cia Teatral
Mistura, foi um achado que transformou o fazer teatral da trupe e
consequentemente da produção teatral de Ibotirama. Fazíamos um teatro clássico,
com textos reflexivos, informativos e dramáticos. Internamente o grupo pedia
mais, então decidimos irmos em busca de um referencial para o grupo, estudamos
vários textos, fizemos várias experiências. A comédia era um viés, mas, sempre
foi muito difícil encaixarmos no “time” o que humor sugeria. Um belo dia o
texto A Chegada de Lampião no Céu e no Inferno dos poetas cordelistas José
Pacheco e Rodolfo Coelho caiu em nossas mãos, imediatamente a literatura de
cordel contagiou todo o grupo, desde a leitura do texto a identificação
foi total, a construção dos personagens, o figurino , as marcações,
tudo foi nos aproximando da cultura popular. A palavra rimada do cordel, a fala
ritmada, a dinâmica do verso, a leveza e a música entraram em nossas
vidas. Hoje a identidade do grupo é a literatura de cordel e a cultura
popular.
Junto
com a literatura de cordel veio a comédia e a busca do aprimoramento, da
compreensão estética, da fé cênica, da evolução da interpretação, do
crescimento profissional. Tudo isso transformou-nos, conduziu-nos por muitos e
variados caminhos. Novos textos, novas plateias, novas experiências e assim a
Cia de Teatro Mistura vai se firmando no cenário nordestino, muito mais
comprometida com a arte e a Cultura Regional.
O
cangaço no Território Brasileiro
No
final do século XIX, no nordeste brasileiro, forjou-se um fenômeno social
independente que ficou conhecido como O CANGAÇO, que não pretendia tomar o
poder, mas buscava fazer justiça com as próprias mãos. O nordeste
brasileiro, primeira região a ser explorada pelos colonizadores europeus,
depois da decadência da cana-de-açúcar e da mudança da capital de Salvador para
o Rio de Janeiro, tornou-se terra sem lei, onde a “justiça” de vida e morte era
executada pelos coronéis. Donos das terras e do poder político, realizavam as
eleições da República Velha (1889-1930) através do voto de cabresto. Aliada
a uma eterna situação de seca, desemprego, fome, injustiça e miséria e sem
nenhuma perspectiva mudança social, alguns homens e mulheres daquele momento
histórico resolveram formar, para combater tal situação, grupos de cangaceiros
independentes. No decorrer do tempo, começaram a ganhar força e
representatividade esses grupos de rebeldes justiceiros, que de forma
organizada travavam vários combates contra os poderes oligárquicos: jagunços a
mando de coronéis e as “volantes” a mando do governo. Para além desta
realidade, começa a ganhar “fama” o Bando de Lampião, liderado por Virgulino
Ferreira. O Bando chegou a ter na década de 20|30, do século XX, em torno de 40
a 80 componentes. Vivia no sertão nordestino, onde governava com regras, normas,
disciplinas e leis próprias. Assim como Lampião, sua companheira Maria Bonita e
seus fiéis escudeiros Corisco e Dadá, adotaram “nomes de guerra”. Apesar
de toda violência cometida pelos bandos contra seus inimigos e vice-versa,
internamente cultivavam uma vida regada com a verdade da palavra, muita música,
muita dança e muita festa. No registro musical, Volta Seca, membro do
Bando, compôs a música Acorda Maria Bonita e junto com Lampião, Mulher
rendeira; na dança, o Cangaço é o criador do xaxado, dançado ainda hoje
nos folguedos nordestinos; vaidosos, usavam perfume francês; religiosos;
rezavam o Terço todas as manhãs. Além de criarem um figurino original e
próprio, mais tarde adotado pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga. O Cangaço
teve fim com as mortes dos principais líderes do Bando de Lampião, numa
emboscada na Fazenda Angicos, no sertão Sergipano, onde todos tiveram as
cabeças cortadas (1938) e expostas à população durante décadas.
Movimento
fundamental para a compreensão da história do Brasil e, ainda hoje, muito mal
compreendido e consequentemente ainda muito discriminado pelos livros didáticos
e pela sociedade de modo geral.
Reizinho Pereira dos Santos
Historiador
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