Artística Ananias Serranegra tem
sua história cravada no território velho Chico, especificamente na
comunidade de Brejinhos da Serranegra (cidade de Oliveira dos Brejinhos -
Bahia), desde menino, pessoas como vizinhos, amigos, colegas de escola, já começavam
a perceber nele, traços artísticos ainda não apurados.
A vida segue... E Ananias Serranegra, começa
a ter contato com a arte, sai da comunidade interiorana, já citada, e sem
caminhos traçados vai para cidade de Ibotirama - Ba. Logo, então, com 14 anos
de idade tem o seu primeiro contato com a veia artística musical, sustentado
pelo professor orientador e músico Edinei de Carvalho, o jovem sobe aos palcos
tendo como instrumento precursor o saxofone no festival de música popular de
Ibotirama (FEMPI) ao lado de artistas reconhecidos na cidade, destacando-se, e
sendo eleito pelo júri eleito como artista revelação.
Em suas descobertas, o jovem negro, foi convidado
pelo arte-educador Aliomar Pereira, precursor do teatro no território Velho
Chico, para que ele tivesse o primeiro contato com o Grupo de Teatro Mistura,
pois, segundo o teatrólogo, via nele um conjunto de potencialidades artísticas
soltas ao vento. – “Vamos lá!”, foi a primeira frase proferida, ainda
que titubeante. Passa então a conviver com o grupo, experimentando todas as
ferramentas do teatro, com jogos teatrais, exercícios e estudos com os
dramaturgos da história. E ele se pestanejar começa a degusta o sabor visceral
do teatro.
O laço do experimento no teatro lhe rende bons
personagens nos espetáculos que foram produzidos pela Cia de Teatro Mistura ao
longo de uma investigação e pesquisa estética, foram eles: “História em um
camarim”; “A poluição vai a júri popular”; “A chegada de Lampião no Céu e no
Inferno”, “O auto da camisinha”; “Sempre um muro”; e “As lendas do Velho
Chico”. Junto com a companhia de teatro Ananias esteve em todos as viagens de
intercâmbios teatral circulando por diversas cidades do Estado da Bahia, as
quais podemos citar: Ibotirama, Muquem do São Francisco, Paratinga, Oliveira
dos Brejinhos, Irecê, Serra do Ramalho, Jequié, Luís Eduardo Magalhães, Brotas
de Macaúbas, Bom Jesus da Lapa, Macaúbas, Caetité, Seabra, Barreiras e na
Capital da Bahia Salvador. O ator veio para este grupo inquieto, com interesse
na buscar incessante de novos conhecimentos, através da linguagem artística do
teatro que faz uma correlação com tantas outras linguagens como a música,
literatura, artes visuais, áudio visual com teatro documentário entre outros.
A Cia de Teatro Mistura, propõe para o ator Ananias
Serranegra ir ser o representante do grupo num processo de formação e
qualificação na área das artes cênicas em outro município pelo projeto do RETRATE
INTERIOR IV – Requalificação dos Trabalhadores do Teatro, curso de Teatro
com 240 horas/aula com teoria e prática, o curso aconteceu na cidade de São
Desidério promovido pelo SATED- Ba (Sindicato dos Artistas Técnicos da Bahia).
Dentre as várias possibilidades artísticas que o
ator se envolveu durante este tempo com o grupo, ele descobre então a lírica
poética com a proposta de (re) construir conceitos, indo de encontro com seu
som interior. Aos 15 anos, nas noites isoladas tem-se o primeiro contato com o
lápis, começa a compor suas poesias, interpretando-as e interpretando também
poesias de outros poetas. Foi premiado como melhor intérprete e ficando nas
primeiras colocações dos festivais, em sua terra, Ibotirama.
Atento a conjuntura política e social, o ator
Serranegra, abarca, quase sempre, a temática homoafetiva, identidade de gênero
e orientação sexual. Construindo um espaço de debate através de suas
performances poéticas, questionando e levantando a bandeira contra o machismo,
heterossexismo e LGBTfobia. Carregando sua arte performática e
(des)construidora para seminários, fóruns de debates, recitais poéticos, shows
e outros espaços, sempre com a imagem do corpo subalternizado contrapondo os
pensamentos heteronormativos. Nesta mesma vertente, é modelo fotográfico do
projeto “Experimentando” da fotografa e produtora audiovisual Crisna Imhof,
projeto de ensaio fotográfico artístico em cenas externas (ruas, avenidas,
etc.), na perspectiva de um novo olhar para o corpo estigmatizado e
marginalizado.
Congruente a esses anseios e propostas de trabalho,
se dedica, atualmente, a construção do seu espetáculo solo “Órfão
Confesso - Monólogo de um folego só”, texto autoral, que tem por
base o poema “Confissões de Orfandade”, também de sua autoria, onde
retrata a dura realidade vivida por uma transsexual nas noites,
mergulhando no seu interior, muitas vezes melancólico e mórbido, retratando as
dificuldades e alegrias enfrentadas por ela, tendo no seu âmago a prosa poética,
retirando das tristezas belas poesias. A direção do espetáculo fica por conta
de Rafaella Madalena e Crisna Imhof, duas jovens artistas, ansiosas por novas
linguagens teatrais e novas possibilidades de artes. O espetáculo está em
processo inicial de montagem, tendo como data prevista de estreia em Março de
2016.
Recentemente, teve a ousadia de também adentrar o
mundo da sétima arte (o cinema), na média metragem do diretor Jarbas Éssi, que
está em processo de finalização, filme curta metragem “As Lendas do Velho
Chico” – documentário da Cia de Teatro Mistura sobre direção de Gilberto
Morais, teve apoio do projeto Faz-Filmes. Com toda essa turbulência artística,
Serranegra ainda encontra tempo para se dedicar a sua formação acadêmica, o
qual é licenciando em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia,
curso este, que muito contribui para seu crescimento artístico e humano. Ao
término deste ciclo universitário pretende fazer o curso de artes cênicas
profissão que quer para sua jornada vital.
Notamos que Ananias é um artista muito jovem e a
arte adentrou em sua vida de uma forma inesperada e muito intensa, e é assim
que pretende continuar. Alcançando novos caminhos e possibilidades, e é com
muito orgulho que a Cia de Teatro Mistura o tem em seu elenco.