A Cia. de Teatro Mistura em
2009, foi convidada para participar do Projeto “A Semana dos Cordelistas”, em Serra
do Ramalho, e nessa oportunidade apresentar o espetáculo “A Chegada de Lampião
no Céu e no Inferno”, trabalho adaptado dos textos de literatura de cordel de
José Pacheco e Rodolfo Coelho. Desse evento, culminou o livro “Antologia dos
Cordelistas do Território Velho Chico”, coordenador por Cleber Eduão.
Nesse primeiro desbravamento da trupe de
atores pelo território, tiveram a honra de conhecer o cordelista Marco Haurélio,
que no final da apresentação parabenizou os atores e toda equipe pelo belíssimo
trabalho. O Poeta, que estava a expor seus livros durante o evento, iniciou
desta forma sua relação com o grupo: “foi amor à primeira vista”.
Frente a sua banca, o poeta apresentou aos atores
alguns de seus livretos de cordel, entre eles se destacava uma obra bastante
conhecida no mundo do teatro, mas que ali possuía um toque bem singular. Era “A
Megera Domada” do dramaturgo inglês William Shakespeare, só que em cordel. Os
atores ficaram curiosos pela obra e efetuaram a compra do livro com direito a dedicatória
e uma provocação: monte no teatro de vocês; indagamos: quem sabe um dia não nos
ousaremos a montar este trabalho clássico do teatro, ao passo que agora por
suas mão torna-se bem original, pois, para nós do Mistura, sabemos quanto a
rima dá gosto na língua dos atores.
Diante das histórias dos
grupos de teatro de Ibotirama e suas montagens de trabalhos teatrais, poucos se
viu nos palcos dessa cidade e por essas regiões o teatro clássico de William
Shakespeare, Bertolt Brecht, Augusto Boal, Nelson Rodrigues entre outros
dramaturgos a nível nacional e internacional.
Ao analisar essa história
e tantas outras que os vieram, resolveram por certo montar o espetáculo “ A
Megera Domada”, adaptada pelo querido poeta Marco Haurélio. Foi sem duvidas uma
escolha acertada que vem para ratificar um traço peculiar da companhia, e
firmar ainda mais o nó existente entre o grupo e a literatura de cordel,
fazendo desta, presença confirmada em todos os seus espetáculos.
A montagem deste trabalho
vai além do seu processo criativo e do objetivo de se fazer teatro tão somente
pela arte. Tudo se dá com a ousadia de realizar um projeto que cria e fortalece
relações afetivas e profissionais com os atores, com o texto, com a sociedade. O grupo busca sempre defender uma causa em
seus espetáculos, imbuídos da necessidade de provocar um despertar crítico e
político em sociedade, e neste, não se nega a trajetória. É trazido à mesa, ou
melhor, a cena, a discussão que nos permite refletir sobre os papeis sociais de
gênero e suas performances.
Foram 12 encontros, no
período de seis meses que totaliza 100
horas de ensaios, com um elenco de setes pessoas comprometidas, sem contar com
a produção, direção... Mas, esses são papos para outra hora. Voltarei em breve
para dissertar sobre as outras relações que a montagem oportunizou ao grupo.
Logo mais, “Construções
de afeto e arte – Dobradores da Arte de Caetité e Companhia Mistura de
Ibotirama.”
Evoé!