Hoje, nós da Cia. de Teatro Mistura, temos o prazer e a honra de contar
a história de uma grande atriz do teatro Ibotiramense, Rafaella Tuxá, que
atualmente está cursando o 5º semestre do curso de Artes Cênicas – Direção
Teatral, da Universidade Federal da Bahia
(UFBA). Ela é indígena, preta, pernambucana e do interior da Bahia
(Ibotirama), localizada às margens do Rio São Francisco, território Velho
Chico. Ela, também ribeirinha, vai pisar no palco do Teatro Castro Alves pela
primeira vez, no dia 14 de julho de 2019, com o espetáculo “Pele Negra –
Mascaras Brancas”, da Cia. de Teatro da UFBA. O trabalho é inspirado na obra homônima
de Frantz Fanon, influente psiquiatra e pensador negro da Martinica durante o
século XX. A peça tem a dramaturgia de Aldri Anunciação, direção de Onisajé e
codireção de Licko Turle.
Mas a trajetória
artística de Rafaella Tuxá começou em 2004, quando ela começou a fazer parte do
Grupo de Teatro Afã, sob direção do consagrado diretor Aliomar Pereira, que
registrou suas histórias no livro “Histórias de Teatro e Pôr de Sol”, publicado
pela Editora Teatro Popular de Ilhéus em 2016. No livro, o autor fala sobre a participação da atriz
Rafaella Tuxá nos espetáculos “Morte e Vida Severina”, como cantora e atriz,
“Não foi Esse Mundo que Criei”, e “Lições de Cidadania”. No projeto Teatro Em
Sala de Aula, participou do espetáculo “História em um Camarim”, interpretando
a palhaça Farofa, que completava o trio de palhaços com Gilberto Morais e
Cleiton Silva, dois parceiros de palco.
O diretor de Teatro
Gilberto Morais fala sobre Rafaella Tuxá: “Rafinha fez e da parte de
nossa história, pois somos o primeiro grupo de Ibotirama a completar 10 anos de
existência, atuando de forma ininterrupta, pesquisando, captando recursos para
o teatro, e realizando uma montagem de espetáculo por ano desde sua formação. E
agora em 2019, dá até frio na barriga pensar em tudo que passamos, mas é um
importante ano para contarmos lindas histórias de nossa gente, de nosso povo e
de nosso fazedores de teatro. Temos o prazer de conviver como Rafaella Tuxá
que, desde 2017, busca formação acadêmica na área, é a primeira diretora de teatro
de Ibotirama com formação acadêmica. Como atriz e cantora, ela atuou na Cia. de
Teatro Mistura no espetáculo “A Chegada de Lampião no Céu e no Inferno”, entre
2009 a 2014, interpretando a personagem Viúva, narrando e cantando as
conquistas do grande Lampião. Com esse trabalho, circulamos mais de trinta
cidades no interior e chegamos à capital baiana, pelo Verão Cênico, onde
fizemos três apresentações (Terreiro de Jesus e Praça do Campo Grande). Nessa
oportunidade, fomos, pela primeira vez, ao camarim do TCA, tiramos fotos e
ficamos emocionados só de entrar, imagine atuar no palco do grande Teatro
Castro Alves. Ela também fez parte do elenco de “As Lendas do Velho Chico”, que
ficou em cartaz de 2015 a 2018. Rafaella Tuxá era cantora do espetáculo, com
uma linda voz, cantava as lendas e estórias do povo Beradeiro. Contribuiu de
forma direta com o grupo nas conquistas dos espaços cênicos, viajou com o grupo
para participar dos Festivais de Teatro e esteve próxima dos projetos aprovados
nos editais, e como amiga e admiradora do nosso trabalho teatral”. Em suas
poucas palavras, mostramos como era a relação de Rafaella Tuxá e grupo Mistura,
sonhando juntos no teatro e na vida, deixando saudade.
Nosso leitor deve estar
curioso para saber mais sobre essa menina e grande mulher, e sobre o que ela
tem feito na capital Baiana. Pois é, neste semestre, ela está atuando como
vocalista de uma banda feminina Afrocentrada intitulada Carne Negra, além de
pesquisar as relações de gênero e identidade no teatro do oprimido, sob orientação
da Prof.ª Antônia Pereira Bezerra
(UFBA). Integra também o projeto de extensão Carne Negra –
Teatro-Máscara-Ritual, coordenado pela Prof.ª Joice Aglae (UFBA). É também
representante estudantil da Escola de Teatro da UFBA, integrante do Diretório
Acadêmico A Tua Ação, e integra um coletivo de estudantes artistas do interior
da Bahia e da periferia de Salvador, chamado "Fraude Pura". E é assim
que ela mostra a capacidade de uma artista saída do interior para a capital
baiana, mostrando o potencial e vigor dos artistas interioranos.
