O meu amor ficou em casa
Pôs os sonhos trancados a dormir.
Guardou-se entre lençol e a costura
Vergonha se esconde em atadura
Pois os pés fizeram greves de não ir.
(A. Serranegra)
Percorrer
as trincheiras abertas por nossas raízes ao longo da vida. Observar as feridas,
as guaridas, as réstias de felicidade que nos fazem abrir os lábios, os sabores
e odores de ser quem somos, provocar novas relações de aconchego e afeto em
corpos que se prostravam distantes. Foi a partir desses sentimentos que foi
realizado o projeto “Casa dos a-voz: meu alpendre de poesia”, do
ator e poeta Ananias Serranegra, contemplado na categoria Literatura- Criação
Literária, do Prêmio Jorge Portugal.
O
projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de
Cultura (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela
Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal. E
possibilitou a residência artística do artista da palavra e da cena, com seu
avô, Emídio Ferreira, na comunidade rural de Brejinhos de Serra Negra,
município de Oliveira dos Brejinhos, interior da Bahia.
Nessa
vivência, seu avô, foi a-voz, segredou histórias, entre um trago e outro de
cigarro, em mais do que um ato particular, em memória viva. Voz que contou
sobre a história do lugar, dos costumes, da gente. Foi solidão de quem só: deitou, levantou e
fumou e com os olhos confessou os novos dias, suas percepções, fez-se poesia e
inspiração para um conjunto de poemas que está disponibilizado agora em forma
de e-book, acompanhadas por ilustrações do artista Fabio Ohara.
Como também artista da cena, Serranegra nos entrega três performances poéticas, a partir dos poemas: “O meu amor ficou em casa”, “Penduricalho” e “Intriga”. Os vídeos das performances estão disponibilizados no youtube (Ananias Serranegra - https://www.youtube.com/channel/UCrlzSiVlOLOrimNUe6_P31w ) e instagram do artista(@_serranegra - https://www.instagram.com/_serranegra/ ).
Foto: 360ºprodutora |
Ananias
Serranegra, que carrega no nome o sentimento de pertença àquela comunidade e
que por diversos motivos ali não mais reside, nesse processo de isolamento
retornou a suas raízes e teve as provocações para realização desse projeto.
Desse momento escreveu o poema intitulado “Umbigo silêncio”, tendo como fonte
inspiradora seus dias com seu avô. Essa poesia foi premiada no XXXVI Festival
de Poesia de Ibotirama, na etapa local como primeira colocada, melhor
intérprete e na etapa nacional como segundo colocada.
...É que você foi criança nos meus braços
Dessas de segredar pequenos desesperos:
O desapoio da bengala a mapear o chão
A trêmula carne impondo o copo a mão
O esquecer de tanto amor a quem adora.
(A. Serranegra)
Confira através desse link o e-book completo
E-Book “Casa dos A-voz: Meu Alpendre de Poesia”
“...Em
tal contexto poético, Ananias Serranegra colheu saborosamente o fluir da
cultura dos “avós”, ali onde concebeu o lugar especial da voz que o
constituiu... E ainda constitui. Cremos ter sido ali que se deu seu forjar – de
ouvido – do exercício da linguagem maior: a do afeto que o afetou e o tornou
afeito à poesia”. Disse a professora Maria das dores na apresentação da obra.
A
residência artística foi norteada a partir de três pensamentos: O meu amor
ficou em casa, os tijolos do meu povoado e o que os olhos veem. O que gerou uma
serie de poesias encharcadas de cuidado e afeto. Não deixem de conferir!